Biografia de Dorival Caymmi
Se estivesse vivo, Dorival Caymmi completaria 100 anos em 30 de abril de 2014.
Em comemoração ao seu centenário, inúmeras homenagens vêm sendo feitas a esse, que foi único entre os maiores compositores da musica popular brasileira. Vocacional não poderia deixar de também render-lhe homenagem.
Caymmi nasceu em Salvador, filho de pai funcionário público, de descendência italiana e de mãe descendente de portugueses com africanos. Desde menino foi estimulado pela família a tocar violão, o que fez sob a orientação do tio materno, Alcides Soares, boêmio e violonista.E ainda na capital baiana, fez parte de um quarteto de nome pitoresco, o “Três e meio”, composto por Deraldo, seu irmão e pelos os irmãos Zezinho e Luís, sendo esse último, o pandeirista baixinho,o responsável pelo meio que consta do nome do conjunto.
Caymmi já compunha desde a adolescência e, depois de tentar várias outras maneiras de ganhar dinheiro em sua terra, tais como auxiliar de escritório ou caixeiro-viajante, o músico seguiu para o Rio, convencido pelo amigo pianista Baby Soares, musico do navio Loide brasileiro, de que lá estava o seu futuro.
Quando Chegou ao Rio, o compositor já apresentava em seu repertório três dos quatro estilos de composição que figurariam em sua obra: as vertentes baianas, ou canções praieiras, como É doce morrer no mar, Rainha do mareNoite de Temporal, os sambas de roda como Balaio Grande eVoce já foi àBahia? e, as canções com motivos folclóricos como A preta do acarajé e Roda pião. Isso prova o quanto Caymmi já era um compositor maduro, pronto para conquistar o público com a qualidade de suas melodias e a originalidade de seus versos.
Em 24 de junho de 1938, Dorival Caymmi ganhou seu primeiro cachê na Radio Tupi, num programa do qual também participavam Herivelto Martins e Dalva de Oliveira. Enquanto aguardava uma oportunidade, o artista já havia feito vários testes em outras rádios como cantor e como desenhista na revista O Cruzeiro, outra de suas grandes habilidades. Mas ainda foi preciso mais alguns meses para que viesse a grande chance de ter sua musica O que é que a baiana tem? cantada por Carmen Miranda no filme Banana da Terra: de repente, o compositor tornou-se conhecido em todo o Brasil, um ano depois de chegar ao Rio de Janeiro.
O baiano logo se adaptou à vida na capital do país, sem, no entanto, perder a baianidade. E conheceu a cantora Stella Maris, cantora de rádio, por quem se apaixonou e com quem se casou no dia do seu aniversário de 26 anos. Com Stella, teve os filhos Nana (Dinair), Dori (Dorival) e Danilo, todos nossos grandes e conhecidos personagens da MPB.
A década de 1940 marcaria o lançamento de muitos sucessos: Rosa Morena, Vatapá, Acontece que eu sou baiano e, o último de seus estilos, samba-canção, iniciado em 1945 por Marina e seguido por Dora, Nem eu, Só Louco, entre outros.
Entre os finais dos 40 e os finais dos 50, Dorival Caymmi viveria sua melhor fase, compondo e gravando o maior numero de seus sucessos. Entre eles: Saudade, em parceria com Fernando Lobo, Sábado em Copacabana, Não tem solução, em parceria com Carlos Guinle, Saudade de Itapuã, Historia de pescadorese, finalmente João Valentão, Maracangalha e Saudades da Bahia, três de seus supersucessos.
Dorival Caymmi compôs uma obra pequena, com somente 120 composições, como levantado por sua neta Stella Caymmi no livro Dorival Caymmi: o mar e o tempo. Isso se deve ao fato de sua obra ser muito requintada, esmeradamente trabalhada, numa exercício perfeccionista de casar a letra e a melodia com paciência e labor extraordinários. Dizem alguns que também foi devido à lentidão e à preguiça de que sempre foi acusado.
Já nos finais dos anos 1950, Caymmi diminuiu bem o seu ritmo de trabalho, mas ainda teve grandes sucessos como Das rosas em 1965, Oração de Mãe Menininha em 1972, Modinha pra Gabriela em 1975 e Sargaço mar em 1985. Dorival completou 60 anos de vida artística e os últimos foram vividos de forma muito rotineira e tranquila, como sempre almejou, divididos entre o apartamento de Copacabana e a casa de Pequeri na serra mineira, em companhia de Stella, com quem sempre viveu.
Dorival Caymmi sempre ouviubom musica, de clássicos como Mozart, Bach e Debussy a sambas de Sinhô, Noel Rosa e Ary Barroso, além do folclore popular. Tinha a literatura como grande hábito e lia de Neruda, Drummond e Manuel Bandeira ao amigo Jorge Amado. Todas essas fontes ajudaram-no a refinar o seu já inigualável estilo original-simples-sofisticado. Sua musica, que tem assinatura própria, marca registrada, estilo inconfundível e que independe de qualquer escola ou corrente, não tem antecessores nem seguidores. Dorival Caymmi foi único e deixa lacuna na MPB que jamais será preenchida.
Editado por Ciça Bueno a partir das fontes:
– Severiano, Jairo, Uma historia da Musica Popular Brasileira, Editora 34, São Paulo/SP, 2008.