Tom Jobim ou Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim foi um dos mais importantes compositores brasileiros. Gênio da Bossa Nova, o compositor foi também maestro, pianista, arranjador e cantor; é autor de inúmeros clássicos da nossa música, executados por rádios, Tv’s, Internet e outros veículos, sendo a mais célebre a Garota de Ipanema, regravada 240 vezes e executada outros tantos milhares de vezes mundo afora, perdendo apenas para Yesterday, dos famosos Beatles.
Composta em 1962 por ele juntamente com o poeta Vinícius de Morais, a canção é a mais executada de Tom também no nosso país, segundo o ranking divulgado pelo ECAD – Escritório Central de Arrecadação e Distribuição –. Outras tantas canções de sua autoria já se tornaram clássicos como Wave, Eu sei que vou te amar e Chega de Saudade. Tom Jobim já foi gravado e regravado por inúmeros artistas como Alcione, Adriana Calcanhotto, Adoniran Barbosa, Angela Maria, Angela Ro Ro, Altamiro Carrilho, Baden Powell, Belchior, Beth Carvalho, Cássia Eller, Cesar Camargo Mariano, Caetano Veloso, Chico Buarque, Dominguinhos, Djavan, Danilo Caymmi, Dori Caymmi, Elba Ramalho, Erasmo Carlos, Elis Regina, Fagner, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Ivan Lins, João Gilberto, Lenine, Martinho da Vila, Milton Nascimento, Nelson Gonçalves, Renato Russo, Roberto Menescal, Simone, Toquinho, Zé Ramalho e Zizi Possi, entre tantos outros. Isso sem falar nos internacionais. Não há cantor ou orquestra americanos da fase clássica, que não tenha gravado algo de Tom Jobim ou da Bossa Nova como Johnny Mathis, Nat King Cole, Tony Bennett, Frank Sinatra, Billy Eckstine, Ella Fitzgerald, Bobby Short, Carmen Mc Ray, Oscar Peterson, Duke Ellington, Ray Charles, Dizzy Gillespie, Sarah Vaughan, John Williams e mais recentemente nomes como Al Jarreau, Laura Fygi e Amy Winehouse, além das duas bandas brasileiras de heavy metal mais bem-sucedidas no exterior, Sepultura e Angra.
Tom é nascido no Rio de Janeiro, filho do escritor e diplomata Jorge de Oliveira Jobim e de Nilza Brasileiro de Almeida Jobim, cuja família de origem portuguesa, era da cidade de Jovim em Portugal, origem do seu nome. O compositor nasceu no bairro da Tijuca, mas logo a família mudou-se para Ipanema onde se criou. Já durante a infância seus pais se separaram, vindo o pai a falecer e sua mãe a se recasar alguns anos depois com o funcionário público Celso Frota Pessoa, a quem Tom e sua irmã Helena chamavam de pai.
Logo cedo, o compositor revelou sua veia musical ao chegar à sua casa um velho piano. Seu primeiro professor foi o alemão Joachim Koellreuter, refugiado da guerra, que foi o responsável pelo início da carreira de inúmeras gerações de músicos brasileiros. Tom chegou até a entrar na Faculdade Nacional de Arquitetura, mas logo a abandonou, passo no qual teve todo o apoio do padrasto. Passou então a estudar com a pianista erudita Lucia Branco, que ao perceber sua veia de compositor, o indicou a prosseguir seus estudos com Paulo Silva, Tomás Teran e Villa-Lobos.
Em 1949, Tom se casou com Thereza de Otero Hermany, com quem viria a ter dois filhos, Paulo e Elizabeth, ambos músicos. Passou então a tocar em bares e boates de Copacabana, tais como O Beco das Garrafas e, em 1952 foi contratado como arranjador pela gravadora Continental. Além dos arranjos, acumulava a função de transcrever para a pauta, as melodias de outros compositores que não dominavam a escrita musical e assim foi conhecendo alguns de seus futuros parceiros, tais como Newton Mendonça, com quem fez Incerteza, sua primeira composição gravada, na voz de Mauricy Moura.
Saiu da Continental e foi pra Odeon. Nessa época compôs alguns sambas como Tereza da praia, com Billy Blanco, gravada por Lucio Alves e Dick Farney, seu primeiro grande sucesso, além de Solidão e Sinfonia do Rio de Janeiro. Outras parcerias ocorreriam tal como a dele com Dolores Duran na canção Se é por falta de adeus.
Em 1956, Tom recebe a tarefa de compor as músicas da peça Orfeu da Conceição, de autoria de Vinícius de Morais, peça que transpunha o mito grego para uma favela carioca e que haveria de determinar sua incursão definitiva na musica popular brasileira. Juntos por apenas sete anos e 46 composições, como destaca Jairo Severiano em seu livro Uma história da musica popular brasileira, Tom e Vininha, como chamavam os mais íntimos a Vinícius, reformularam a canção brasileira, sintetizando em sua obra um processo de modernização, já iniciado por outros como João Gilberto nos anos anteriores. O primeiro grande êxito foi Se todos fossem iguais a você, da peça Orfeu gravada diversas vezes. E depois vieram Chega de saudade, A felicidade, Garota de Ipanema, Eu sei que vou te amar, Amor em paz, Insensatez, Canção do amor demais e tantas outras.
Tom tornou-se de repente um nome famoso com o estouro da Bossa Nova, sendo que A Felicidade e Eu sei que vou te amar foram as mais gravadas canções da época, somando 75 gravações.
A consolidação da Bossa Nova veio com Chega de saudade, interpretado por João Gilberto num 78 rotações, lançado em 1959, com arranjos e direção musical de Tom, que já anunciava os rumos que a MPB tomaria dali em diante. Ao mesmo tempo em que vivia um dos melhores momentos da parceria com Vinicius de Morais, Tom alcançava o sucesso com músicas só suas como Este teu Olhar e Corcovado e, no mesmo ano de 1959 veio o disco Amor de gente moça de Silvinha Telles, um disco com doze canções de Tom, entre elas Só em Teus Só em teus braços e Dindi, com Aloysio de Oliveira.
Já consolidada, a Bossa Nova deu um grande passo em direção ao seu reconhecimento quando, em 1962, houve um grande concerto no Carnigie Hall, em Nova York, que teve a participação não só do Tom, mas também de João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal, entre outros.
Foi no ano seguinte que compôs a famosa Garota de Ipanema, seguida por Samba do Avião, Só Danço Samba e Ela é Carioca (com Vinícius), O Morro Não Tem Vez, Inútil Paisagem (com Aloysio), Vivo Sonhando.
Aproveitando a ida aos EUA, muitos ficaram por lá, inclusive o Tom, que mandou buscar a mulher e os filhos, e instalou-se num apartamento em Nova York. Lá gravou discos, como o primeiro individual que foi The composer of Desafinado Plays, participou de espetáculos e de discos como Jazz Samba Encore, com Stan Getz, Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo e fundou sua própria editora, a Corcovado Music. O álbum The composer… abriu as portas para a sua musica e a de seus colegas da Bossa Nova nos EUA, devido em grande parte à sua identificação com a canção americana de Gershwin, Cole Porter e Berlin.
Em 1964, competindo com os Beatles, os Rolling Stones e Elvis Presley, Tom Jobim ganhou o Grammy de Música do Ano com a Garota de Ipanema. E em 1967, o sucesso fora do Brasil o fez voltar aos EUA para gravar com o grande mito americano, Frank Sinatra. O disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, tinha arranjos de Claus Ogerman e versões em inglês de várias canções do Tom: The Girl From Ipanema, How Insensitive, Dindi, Quiet Night of Quiet Stars.
No fim dos anos 1960, depois de lançar o disco Wave, participou de festivais no Brasil, conquistando o primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção da Rede Globo, com Sabiá, em parceria com Chico Buarque, interpretado pelo Quarteto em Cy, de Cynara e Cybele.
Entre 1963 e 1994, Tom se dividiu entre o Brasil e os EUA em função de seus compromissos profissionais, realização de shows e discos, administração dos direitos autorais gerados por suas gravações e execuções de suas musicas. Ainda nesse período, compôs mais de cem músicas que perfazem 230 gravações aproximadamente, incluindo sambas, sambas-canção, peças camerísticas, composições ecológicas, além das bem-humoradas e suaves canções românticas. Entre elas estão Aguas de março, Chovendo na roseira e Matita Perê, além de Passarim, Borzeguim e as inspiradas em musas como Ana Luiza, Bebel, Luiza e Ligia. Entre seus parceiros desta fase estão Chico Buarque, Paulo Cesar Pinheiro, Cacaso e seu filho Paulo Jobim.
O maestro era dono de personalidade instigante e acumulava influências que iam dos clássicos e impressionistas como Débussy e Ravel, a figuras da nossa música erudita como Heitor Villa-Lobos, Guerra Peixe, Radamés Gnatalli e o popular Ary Barroso, até grandes jazzistas norteamericanos. Sua superioridade musical pode ser comprovada pela qualidade de suas melodias, ricamente elaboradas e algumas vezes inusitadas, na ousadia de suas harmonizações, cheias de inesperadas soluções, onde revela sua formação erudita e na elegância com que podia dotar suas complexas composições de leveza. Quase toda a sua obra foi gravada por ele nos 24 álbuns que integram sua discografia, alguns inclusive em dupla com outros como é o caso de Elis & Tom.
Em 1978, separado do primeiro casamento, Tom voltou a se casar, desta vez com Ana Beatriz Lontra com quem teria os filhos João Francisco e Maria Luiza Helena. Na última fase de sua carreira, Tom intensificou suas apresentações em shows, reunindo na Banda Nova o filho Paulo Jobim (voz e violão), a esposa Ana e a filha Beth (vocalistas), Danilo Caymmi (flauta e voz) e sua esposa Simone (voz), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e sua esposa Paula (voz), além de Tião Neto (baixo), Paulo Braga (bateria) e Maúcha Adnet (voz). Com esse conjunto realizou nos últimos 10 anos de sua vida inúmeros espetáculos no Brasil, EUA, Japão, Canadá e inúmeros países da Europa, além de gravar 4 álbuns.
Seu último álbum foi Antonio Brasileiro, lançado em 1994, pouco antes de sua morte por enfarto em dezembro, após extirpar um câncer na bexiga, dois dias antes num hospital de Nova York.
Algumas biografias suas foram publicadas. Entre elas Antonio carlos Jobim, um homem iluminado, de sua irmã Helena Jobim, uma biografia, de Sergio Cabral e Tons sobre Tom, de Marcia Cezimbra, Tarik de Souza e Tessy Calado.
Ciça Bueno, fevereiro de 2015
Bibliografia
- Chega de Saudade, a história e as histórias da Bossa Nova, Ruy Castro, Companhia de Bolso, Companhia das Letras, São Paulo, 2008, 2ª reimpressão.
- Uma historia da Musica Popular Brasileira, Jairo Severiano, Editora 34, São Paulo, 2008, 1ª edição.
- www.wikipedia.com.br