Segundo a mitologia grega, berço de nossa cultura, fazer uma consulta oracular era se dirigir ao Oráculo de Delfos (foto acima), um refúgio onde reinavam a harmonia e o equilíbrio, em busca de mensagens que respondessem às duvidas do consulente. Na porta do templo, encontrava-se e encontra-se ainda a frase, ou a máxima, “Conhece-te a ti mesmo”, famosa até hoje porque nos incita ao autoconhecimento, prática tão importante antigamente quanto nos dias de hoje.
Naquela época, algo como 1000 a.C. a 2000 a.C., a consulta ao oráculo era respondida pela Pítia ou Pitonisa, uma sacerdotisa que descia às regiões subterrâneas, o umbigo ou centro da Terra e, que possuída pelo êxtase e entusiasmo, retornava de lá com a resposta.
Na verdade, a Pitonisa se recolhia a uma sala no interior do templo e lá, no inacessível, no sacrossanto, no domínio do sagrado, era possuída por Apolo, o deus mântico. Traduzindo: a Pitonisa descia ao centro da Terra (o inconsciente) e, tomada de êxtase e entusiasmo (a intuição), auscultava a vontade do Deus Apolo (o self), o Deus da luz e da consciência. Ou ainda, como dizia Heráclito, um pensador pré-socrático do século V a.C., “o Deus soberano, cujo oráculo está em Delfos, nem revela, nem oculta coisa alguma, mas manifesta-se por sinais”(1). Apolo, que era o guardião do templo, não esconde nenhuma verdade, apenas faz com que o consulente compreenda sua própria vontade.
Apolo (foto acima à esquerda) era o deus-sol ou o deus da consciência, considerado o grande harmonizador dos contrários e, se suas origens revelam ligações ctônicas, sua história nos demonstra que o deus também conquistou o epíteto de O Brilhante, o Sol. Regendo a luz e as sombras, ou o consciente e o inconsciente, Apolo é o realizador do equilíbrio e da harmonia dos desejos. Apolo não visava suprimir as pulsões humanas, mas sim orientar os discípulos e seus desejos para uma espiritualização progressiva, para o desenvolvimento da autoconsciência. (2)
Mas é preciso registrar também a presença de Dionísio no Oráculo de Delfos. Por ocasião de umas férias de Apolo, Dionísio tomou conta do oráculo e imprimiu à consulta o êxtase e o entusiasmo – seus maiores atributos – inclusive esse último, que quer dizer ter Deus em mim.
Dionísio, ou Baco (foto acima à direita), é o herói do signo de Peixes, cujo regente é Netuno. Por isso é que fazer uma consulta ao oráculo é uma experiência que açambarca tanto a consciência, Sol, como a sensibilidade mediúnica, regida por Netuno.
Quando alguém procura um profissional para fazer uma consulta, está em busca da harmonia e mesmo que não saiba, disposto a se entregar, a se deparar com não sabe bem o quê, disposto a abrir sua alma, expor seus interiores, ou melhor, escarafunchar o seu inconsciente, se autoconhecer. Cabe ao astrólogo captar e traduzir o céu do momento do nascimento do consulente de modo a favorecer ao máximo a sua busca pela dita harmonia, através do autoconhecimento.
Ciça Bueno, fevereiro 2015
(1), (2) – ambas citações estão no livro “Mitologia Grega, vols 1,2 e 3, Junito de Souza Brandão, RJ, 1991 , editora Vozes.