Wellington Nogueira

Ator, cantor, palhaço e fundador da organização Doutores da Alegria, Wellington Nogueira, como um bom sagitariano, tem muitas estórias pra contar: como foi sua infância, sua formação de palhaço nos EUA, sua carreira de ator no Brasil, seus planos futuros. Vamos conhecer melhor sua história, sua profissão e sua carreira?


– Olá Wellington, é uma honra e prazer enormes tê-lo aqui no Vocacional pra conversar com a gente sobre sua profissão e sua carreira.

– É um prazer, uma alegria e uma honra para mim!!!!

– Você é nascido aonde?

– São Paulo, na Maternidade São Paulo, mais paulista impossível!

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– Como e com que idade você descobriu que queria ser ator? Ou será que você teve duvida entre o teatro e outra escolha profissional?

– Depois que vi minha primeira peça de teatro infantil, eu me apaixonei! Eu sabia que queria brincar mais de juntar um monte de gente prá assistir outro monte de gente num palco! E eu já gostava dos personagens engraçados também; canastrão total, eu gostava de fazer as pessoas rirem. Isso, para mim, era uma felicidade. Eu pedia aos meus pais para poder fazer teste para televisão, eu escrevia, dirigia e montava peças na escola…Eu nunca tive duvida, mas ninguém me estimulava a ver o teatro como uma profissão, mas como um passatempo. Eu dizia que queria ser médico porque ouvia histórias de médicos incríveis que salvaram vidas e lembro que quando falei isso pela primeira vez, a aprovação foi imediata. Então cresci dizendo que queria estudar Medicina mas só me envolvia com teatro. Resultado: não entrei na Faculdade de Medicina e descobri a sala de aula, como professor de inglês. A sala de aula era um tipo de palco. Até que um dia, resolvi assumir que era o teatro que eu queria e fui estudar teatro musical. E no musical, descobri o palhaço e entre palhaços, descobri o hospital… E assim fechei o círculo.

– Onde você estudou e como foi sua formação como ator?

– Estudei na American Musical and Dramatic Academy, em Nova Iorque e a formação de palhaço foi uma colcha de retalhos, mas meu primeiro mestre foi John Towsen.

– E como você se tornou palhaço?

– Na escola de teatro musical, tínhamos a disciplina de teatro clown, porque essa formação é muito boa como base para o ator de musicais: uma cena começa com uma conversa entre duas pessoas que se envolvem tanto com o que falam que aquilo vira música e dali a pouco entra mais um monte de gente cantando e dançando… É tão fantástico que você precisa acreditar muito no que está fazendo para que seja verdadeiro para a platéia. E se tem um cara que embarca em fantasias e situações mirabolantes, esse cara é o palhaço. Mas nunca tinha pensado em ser palhaço; usava como um recurso para ser melhor ator. Até que, quando comecei a trabalhar como palhaço no hospital, tudo mudou. Entendi a força do trabalho e desse ser incrível e aí, nunca mais parei.

– Então nos conte como você começou e montou a organização Doutores da Alegria.

– Fiquei 8 anos em NY e meus três últimos foram trabalhando com a Big Apple Circus Clown Care Unit, primeiro programa de palhaços em hospitais do mundo. Em 1990, meu pai ficou doente, foi internado no INCOR e eu voltei para visitá-lo, pois, segundo o médico, ele precisava me ver para morrer em paz. Ao entrar no hospital, pensei: “Tem muito espaço e necessidade de se fazer isso aqui no Brasil”; comecei a usar com meu pai o que tinha aprendido nos hospitais americanos e ele reagiu tão bem que saiu do hospital e viveu por mais 9 meses. Voltei para NY, encerrei minha vida e voltei para o Brasil, onde cuidei dele até morrer. Em seguida, comecei o trabalho dos Doutores da Alegria. A princípio, era uma forma de agradecer à vida pela oportunidade que tinha me dado, de finalizar a relação com meu pai, mas, à medida que fui me embrenhando, vi que quanto mais me envolvia, mais coisas incríveis iam acontecendo em minha vida e fui descobrindo meu caminho, juntando cada vez mais coisas que pareciam fazer sentido juntas. E acho que até hoje faço isso.

\"well– Você pode nos contar um pouco como funciona o trabalho de vocês. Parece que há mais foco na atividade hospitalar, mas vocês também tem outras vocações, não? Voce pode falar melhor sobre isso?

– Somos palhaços profissionais que atuam em hospitais junto às crianças, familiares e profissionais de saúde; porque cada encontro com uma criança é um espetáculo com começo, meio e fim, escrito a quatro mãos. Agora, o palhaço é um artista totalmente empreendedor, que canta, dança, atua, faz mágica, malabares, música e tudo temperado por um grande improvisador… O cara é um artista consumado que não fica esperando aparecer um teste para ele fazer um papel… Aonde ele chega e joga sua mala, ali começa o espetáculo. Quanto mais habilidades ele tem, melhor ele pode se comunicar com seu público. Pega um artista assim, coloca num lugar como o hospital e faz pesquisa de impacto, que foi o que fizemos nos Doutores da Alegria, e o resultado é um conhecimento que aprendemos e que pode ser levado para outras esferas, campos de trabalho. Aí, é um universo ilimitado!

– Quantos vocês são e em que capitais atuam?

– Somos 47 palhaços em 19 hospitais de SP, RJ e Recife; mas inspiramos muita gente pelo Brasil, que iniciaram programas semelhantes e vimos que era importante ajudar esses grupos a estudar mais, conhecer mais, transformar essa galera em massa crítica para que o download desse trabalho pudesse ser feito nesse século XXI como uma forma concreta de trabalho artístico contemporâneo: a besteirologia! E assim, nasce uma nova vocação, ou melhor, recria-se!

– Vocês tem curso de formação também, não?

– Sim, vimos que formação estava em nosso DNA, então, começar um centro de formação foi praticamente uma conseqüência inevitável. Sabia desde o princípio que para esse trabalho vingar e ter um futuro possível, era fundamental investir em tornar-se uma escola.

– E na área da educação, como o trabalho se desenvolve? Vocês têm convênios com instituições, governos, prefeituras?

– Temos vários públicos, nove ao todo, que são assistidos pela escola: jovens palhaços, profissionais de saúde, estudantes de medicina e outras áreas da saúde, profissionais de empresas, artistas… Mas não temos realizado muitos convênios com o poder público porque as experiências que tivemos nesse sentido nos estimularam a criar outras formas de relação. Com mais autonomia para nós.

– E na área empresarial? Que trabalho vocês podem oferecer pras organizações empresariais?

– Como diz uma besteirologista EMÉRITA, a Dra Ferrara: “O ambiente de trabalho é onde o adulto se interna”; esse ambiente corporativo cultiva muitas doenças que, cada vez mais, se materializam no corpo das pessoas, mostrando que a estrutura de trabalho como ela é hoje, já não faz mais sentido, precisa ser mudada. E assim foram abrindo-se oportunidades para contribuirmos com essas mudanças que precisam ocorrer nas empresas.

– E vocês são premiadíssimos não são? Conte pra nós sobre isso.

– O primeiro prêmio você nunca esquece: O Prêmio Criança, da Fundação Abrinq foi em 97; em seguida o Habitat da ONU nos classificou entre as 40 Melhores Práticas Globais; o Prêmio Cultura e Saúde também é um reconhecimento muito bonito dessa liga entre essas duas áreas. Mas há muito tempo saí fora desse circuito de prêmios porque o maior prêmio é ver o trabalho vingando e crescendo. Então, prefiro investir meu tempo nisso.

– E parece que vocês atuam internacionalmente, tem ligação com outras organizações em outros países, né? Fale-nos sobre isso.

– Começamos a criar uma rede de cooperação com vários programas do mundo. A Morgana Masetti, pesquisadora que desvendou muito conhecimento nessa área, coordena redes de pesquisadores em hospitais europeus… Estamos criando formas de colaboração para aprofundar o download.

– Pois é, mas a sua carreira como ator, ultrapassa suas atividades no Doutores da Alegria né? Conte pros nossos internautas que você faz cinema, teatro, musicais e quais foram suas últimas ou mais famosas atuações?

– Eu sou um inquieto e adoro tudo: cinema, teatro, TV… E o trabalho dos Doutores da Alegria é o meu foco principal. Mas procuro balancear as atividades, porque sinto necessidade de passear por outras experiências e linguagens… e porque retorno com mais inspiração para os Doutores: uma retroalimentação. Atuei em filmes como Sábado, do Ugo Giorgetti e depois de me casar com a diretora Mara Mourão, fiz Alô?! e Avassaladoras; e participei dos documentários Doutores da Alegria – o filme e Quem Se Importa. Recentemente, me deu vontade de cantar, então, atuei em Família Addams e Jesus Cristo Superstar, pois percebi que estava com saudades de cantar e o musical foi meu primeiro chamado para as artes, eu amo muito esse universo! Fora isso, ainda tenho a honra de ser um dos curadores do RISADARIA, atuo na Rádio Para-Choque, com o Ângelo Brandini, escrevi dois livros… E procuro unir tudo isso ao Empreendedorismo Social, que é também minha outra vocação! Faço de tudo um pouco, gosto de encrenca…

– E quais são seus planos futuros? Tem alguma coisa que você sonha pra sua carreira que ainda não realizou?

– Muita coisa: escrever mais dois livros, um musical, um centro de cultura besteirológica… Tem muita coisa pela frente…

\"Wellington– O que eu acho incrível é que vocês conseguiram multiplicar, diversificar e dignificar muito a profissão de ator e palhaço. Quais as principais características que um profissional da sua área tem que ter além de talento, é claro?

– Ótima e constante formação, competência, empreendedorismo, generosidade, escuta, acolhimento, simplicidade, vontade de fazer mais e melhor, dominar habilidades e ser um eterno servidor encantador de seu público.

– Você tem alguma dica pra dar pro internauta que pensa em seguir a carreira de ator ou de palhaço?

– Conheça-se ! Quanto mais a gente se conhece mais sabe que a gente dá praquilo que nasce, portanto, ouvir-se para ver como a fusão entre trabalho, servir, alegria e propósito de vida podem se materializar em nossa escolha profissional, é fundamental.

– Muito obrigada por sua atenção, seu tempo, suas dicas, sua entrevista. E sucesso pra vocês!

– TAMO JUNTO!!!!